Resumo do Livro: De Onde Vêm As Boas Ideias – Steven Johson

De Onde Vêm as Boas Ideias: Uma História Natural da Inovação

 

Sinopse: Se há uma única máxima que percorre todos os argumentos de Steven Johnson, premiado autor de ciências, em “De Onde Vêm as Boas Ideias”, é que, de modo geral, a humanidade tem obtido maior sucesso ao conectar conceitos do que ao proteger as novas ideias.

Assim como o livre mercado, a chamada “ordem natural” serviu, historicamente, de embasamento para todos que almejam restringir o fluxo de inovações.

Todavia, o exame acurado da inovação, cultural e natural, revela que ambientes que blindam suas boas ideias são menos inovadores. Afinal, boas ideias querem se recombinar, se fundir, se conectar.

Além de competir, as inovações devem se reinventar, a fim de ultrapassar barreiras conceituais e construir o futuro nesse processo.

 

O possível adjacente

Temos uma tendência natural a romantizar inovações revolucionárias, imaginando ideias de grande importância que transcendem seus ambientes, uma mente talentosa que de algum modo enxerga além dos detritos das velhas ideias e da tradição engessada. Mas as ideias são trabalho de bricolagem; são fabricadas a partir desses detritos.

Tomamos as ideias que herdamos ou com que deparamos e as ajeitamos numa nova forma. Gostamos de pensar em nossas ideias como uma incubadora de 40 mil dólares, saída diretamente da fábrica, mas na realidade elas foram construídas com as peças sobressalentes que por acaso se encontravam na garagem.

Sendo assim, que tipo de ambiente gera boas ideias? A resposta mais simples que o autor oferece é esta: ambientes de inovação são melhores para auxiliar seus habitantes a investigarem o possível adjacente, uma vez que apresentam amostras diversas e amplas de peças sobressalentes – conceituais ou mecânicas – e promovem novas formas de recombinação.

Ambientes que limitam ou bloqueiam novas combinações (de modo a punir a experimentação e obscurecer possibilidades) tendem a difundir e originar uma quantidade menos de inovações em comparação àqueles que encorajam a exploração.

 

Redes líquidas

Quando pensamos sobre ideias em seu estado natural de redes neurais, duas precondições decisivas ficam claras. Primeiro, o simples tamanho da rede: não se pode ter uma epifania com apenas três neurônios se acendendo. A rede precisa ser densamente povoada.

Nosso cérebro tem cerca de 100 bilhões de neurônios, um número bastante impressionante, mas todos eles seriam inúteis para criar ideias (assim como para todas as outras realizações do cérebro humano) se não fossem capazes de estabelecer essas conexões complexas uns com os outros.

Um neurônio médio conecta-se com mil outros neurônios espalhados pelo cérebro, o que significa que o cérebro humano adulto contém 100 trilhões de conexões neuronais distintas, fazendo dele a maior e mais complexa rede existente na Terra.

Em comparação, há algo na ordem de 40 bilhões de páginas na web. Supondo uma média de dez links por página, significa que andamos por aí tendo, dentro de nossos crânios, uma rede de alta densidade muitas ordens de magnitude maior que toda a World Wide Web.

A segunda precondição é que a rede seja plástica, capaz de adotar novas configurações. Uma rede densa que não consegue formar novos padrões é, por definição, incapaz de mudar, de investigar nas bordas do possível adjacente.

Quando uma nova ideia surge em nossa cabeça, a sensação de novidade que torna essa experiência tão mágica tem um correspondente direto nas células de nosso cérebro: um conjunto inteiramente novo de neurônios se reuniu para tornar o pensamento possível.

Essas conexões são formadas por nossos genes e pela experiência pessoal: algumas delas ajudam a regular nossos batimentos cardíacos e disparam reações reflexas; outras evocam vívidas lembranças sensoriais dos biscoitos que comíamos quando crianças; outras ainda nos ajudam a inventar o conceito de um computador programável.

As conexões são a chave da sabedoria, e é por isso que a teoria de que perdemos neurônios após atingir a idade adulta é irrelevante. O que importa em nossa mente não é só o número de neurônios, mas a miríade de conexões que se formam entre eles.

 

A intuição lenta

Manter viva uma intuição lenta envolve desafios em múltiplas escalas. Em primeiro lugar, temos de preservar a intuição em nossa memória, na rede densa de nossos neurônios.

A maior parte das intuições lentas nunca dura o bastante para se transformar em algo útil, porque entra e sai de nossa memória depressa demais, justamente por apresentar certa obscuridade.

Temos a impressão de que há uma possibilidade interessante a explorar, um problema que poderia nos levar um dia a uma solução, mas depois nos distraímos com assuntos mais prementes e a intuição desaparece. Por isso, parte do segredo de cultivar intuições é simples: anote tudo.

Podemos rastrear a evolução das ideias de Darwin com tamanha precisão porque ele se dedicava a uma prática rigorosa de manter cadernos em que citava outras fontes, improvisava novas ideias, questionava e rejeitava pistas falsas, desenhava diagramas e, de maneira geral, deixava sua mente divagar na página.

Podemos acompanhar a evolução das ideias de Darwin porque num nível básico a plataforma do caderno cria um espaço de cultivo para suas intuições. Não que o caderno fosse uma mera transcrição das ideias que aconteciam em algum lugar nos bastidores de sua mente.

Ele estava sempre relendo suas anotações, descobrindo novas implicações. Suas ideias se formam como uma espécie de dueto entre o cérebro pensante do presente e todas aquelas observações passadas registradas no papel.

Em algum lugar no meio do oceano Índico, uma cadeia de associações o compele a reexaminar o que anotara sobre a fauna do arquipélago de Galápagos cinco meses antes.

E, quando ele lê suas observações, começa a ganhar forma em sua mente um novo pensamento que provoca toda uma nova série de anotações que só farão pleno sentido anos depois.

 

 

Serendipidade

Como qualquer outro pensamento, uma intuição nada mais é que uma rede de células se acendendo dentro de nosso cérebro num padrão organizado. Para algo mais substancial florescer, porém, essa rede tem de se conectar com outras ideias.

Precisa de um ambiente em que conexões surpreendentemente novas possam ser forjadas: os neurônios e sinapses do próprio cérebro e o ambiente cultural mais amplo que o cérebro ocupa.

Durante muitos anos grassou um debate sobre a natureza dessas conexões neurais. Seriam elas de natureza química ou elétrica? Haveria sopas químicas no cérebro, ou faíscas? A resposta, por fim, foi: ambas as coisas.

Os neurônios enviam sinais elétricos pelos longos cabos de seus axônios, que se conectam com outros neurônios por meio de pequenas lacunas sinápticas. Ao chegar à sinapse, a carga elétrica libera um mensageiro químico – um neurotransmissor, como a dopamina ou a serotonina – que flutua até o neurônio receptor e desencadeia finalmente outra carga elétrica, que viaja até outro neurônio no cérebro.

 

Erro

A próxima vez que você visitar um jardim zoológico ou um museu de história natural e observar a extraordinária diversidade dos organismos em nosso planeta, pare um segundo para lembrar que toda essa variação – as presas do elefante, a cauda do pavão e o neocórtex do ser humano – tornou-se possível, em parte, por erro.

Sem ruído, a evolução estagnaria, reduzida a uma série interminável de cópias perfeitas, incapazes de mudança. Mas, como o DNA é suscetível ao erro – sejam mutações no próprio código, sejam erros de transcrição durante a replicação –, a seleção natural tem uma fonte constante de novas possibilidades para testar.

O mais das vezes, esses erros levam a resultados desastrosos ou não têm absolutamente nenhum efeito. De vez em quando, porém, uma mutação abre uma nova ala do possível adjacente. De uma perspectiva evolucionária, não basta dizer que “errar é humano”. Em primeiro lugar, foi o erro que tornou o ser humano possível.

A proeminência da mutação randômica em nossa história evolucionária foi há muito associada à teoria original de Darwin, mas a verdade é que o próprio Darwin teve grande dificuldade em aceitar a premissa de que a variação aleatória não dirigida poderia produzir as maravilhosas inovações da vida.

Quando ele esboçou pela primeira vez a teoria da seleção natural como a “preservação de variações favoráveis e a rejeição de variações prejudiciais” em “A origem das espécies”, faltava-lhe uma teoria convincente para explicar de onde vinham todas essas variações.

Na obra, ele escreve de maneira geral sobre elas como se fossem randômicas, em parte porque está tentando explicitamente repelir a noção lamarckiana de variação dirigida, segundo a qual as inovações – o pescoço comprido da girafa é o exemplo canônico – são geradas por atividade durante a vida do organismo e, depois, transmitidas à geração seguinte.

Mas, ao longo da década que se seguiu, Darwin afastou-se do abismo da variação randômica e desenvolveu uma teoria chamada pangênese, publicada pela primeira vez em seu livro de 1868, “The Variation of Animals and Plants under Domestication”.

A pangênese renegava o ruído da teoria original de Darwin, introduzindo um complexo mecanismo para a hereditariedade que criava um tipo de variação dirigida. Segundo essa teoria, cada célula do corpo liberava partículas hereditárias, chamadas gêmulas, que se acumulavam nas células germinativas do organismo.

Um órgão ou membro particular que fosse intensamente usado durante toda a vida do animal liberaria mais gêmulas, e assim moldaria a fisiologia da geração seguinte. Embora a pangênese tenha sido bem recebida na época em que Darwin a propôs, a genética moderna acabou revelando-a completamente falsa, e esse se provou o mais notório erro da carreira científica dele.

Em certo sentido, o maior erro de Darwin foi não compreender a força proteica do erro.

 

Exaptação

Um organismo desenvolve um traço otimizado para um uso específico, mas depois ele é apropriado para uma função completamente diferente. O exemplo clássico são as penas das aves, que, segundo se acredita, foram desenvolvidas de início para fins de regulação da temperatura, ajudando dinossauros não voadores do período Cretáceo a se proteger do frio.

Quando alguns de seus descendentes, entre os quais uma criatura que hoje chamamos de Archaeopteryx, começaram a fazer experiências com o voo, as penas se revelaram úteis para controlar o fluxo de ar sobre a superfície da asa, permitindo a essas primeiras aves planar.

A transformação inicial é quase acidental: uma ferramenta esculpida por pressões evolucionárias para uma finalidade passa a ter uma propriedade inesperada que ajuda o organismo a sobreviver de uma nova maneira.

Mas, uma vez que essa nova propriedade é posta em uso, depois que o Archaeopteryx começa a usar suas penas para planar, o traço evolui segundo outro conjunto de critérios.

Todas as penas de voo, por exemplo, têm uma acentuada assimetria: as barbas de um lado (ou lâmina) da haste central são maiores que as do lado oposto. Isso lhes permite atuar como uma espécie de aerofólio, proporcionando estabilidade durante o bater das asas.

Aves que voam em velocidades muito elevadas, como os falcões, têm assimetrias mais acentuadas que aves mais lentas. No entanto, as penas da penugem, que só isolam o corpo, são perfeitamente simétricas.

Quando as penas só servem para manter o organismo aquecido, não há vantagem em construí-las ligeiramente enviesadas. Mutações ou outros tipos de variabilidade geral no pool genético produzem inevitavelmente penas um pouco menos simétricas que a média, mas esses traços não se intensificam e se difundem através das gerações, pois não proporcionam nenhuma vantagem reprodutiva em relação às penas normais.

Mas, uma vez que a velocidade de voo se torna uma propriedade com implicações importantes para a sobrevivência, essas barbas assimétricas revelam-se de extrema utilidade.

Ali onde anteriormente a assimetria entrava e saía do pool genético, a seleção natural começa a esculpir essas penas de modo a torná-las mais aerodinâmicas. Uma pena adaptada para o aquecimento é então exaptada para o voo.

 

Plataformas

As plataformas mais generativas surgem em pilhas, de maneira notória no caso da plataforma em camadas da web (a expressão “pilha de plataformas” é ela mesma parte da linguagem comum da programação moderna).

A web pode ser imaginada como uma espécie de sítio arqueológico, com camadas sobre camadas de plataformas enterradas sob cada página. Tim Berners-Lee conseguiu projetar sozinho um novo meio porque pôde construir livremente sobre os protocolos abertos da internet.

Não teve de construir um sistema inteiro para que a comunicação entre computadores se espalhasse por todo o planeta; esse problema já havia sido resolvido décadas antes. Bastou-lhe construir uma estrutura padrão para descrever páginas de hipertexto (HTML) e compartilhá-las através de canais existentes da internet (HTTP).

Até o HTML baseou-se em outra plataforma já em uso, a SGML, desenvolvida na IBM nos anos 1960. Passados catorze anos, quando Hurley, Chen e Karim se reuniram para criar o YouTube, construíram o serviço costurando elementos de três plataformas diferentes: a própria web, é claro, mas também a plataforma Flash da Adobe, que lidava com a gravação e a reprodução de vídeos, e a linguagem de programação JavaScript, que permitia a usuários finais incorporar videoclipes em seus próprios sites.

A habilidade de construir sobre essas plataformas preexistentes explica por que três sujeitos foram capazes de criar o YouTube em seis meses, ao passo que um exército de comitês de especialistas e companhias eletrônicas levaram vinte anos para transformar a HDTV em realidade.

No mundo on-line, o estudo de caso recente mais celebrado sobre o poder inovador de plataformas empilhadas foi a rápida evolução do Twitter. Da mesma maneira que os fundadores do YouTube, os criadores desse serviço de rede social, Jack Dorsey, Evan Williams e Biz Stone, beneficiaram-se de plataformas existentes: o famoso limite de 140 caracteres é baseado nas limitações da plataforma de comunicações móveis SMS, que eles utilizam para conectar mensagens da web a telefones celulares.

Mas o que o Twitter tem de mais fascinante é o quanto se construiu sobre sua plataforma em apenas três anos. Assim que surgiu, ele foi alvo de zombaria, considerado uma distração frívola cuja principal utilidade era contar aos amigos o que tínhamos comido no café da manhã.

Agora é usado para organizar e compartilhar notícias sobre os protestos políticos no Irã, driblar a censura governamental, fornecer suporte técnico a clientes de grandes empresas, divulgar notícias interessantes e milhares de outras aplicações que não tinham passado pela cabeça dos fundadores quando eles inventaram o serviço em 2006.

Esse não é apenas um exemplo de exaptação cultural – pessoas encontrando um novo uso para uma ferramenta projetada para fazer outra coisa. No caso do Twitter, os usuários vêm reprojetando a própria ferramenta. A convenção de responder aos outros como símbolo @ foi inventada espontaneamente por sua base de usuários.

Os primeiros usuários do serviço trouxeram uma convenção da plataforma de envio de mensagens IRC e começaram a agrupar tópicos ou eventos com hashtags, como em “#30Rock” ou “#inauguração”.

A capacidade de rastrear um live stream de tweets – que provavelmente se mostrará decisiva para o modelo comercial do serviço, devido a seu potencial publicitário – foi desenvolvida por uma nova empresa completamente distinta.

Graças a essas inovações, seguir um live feed de tweets sobre um evento – debates políticos ou episódios da série Lost – tornou-se parte fundamental da experiência do Twitter. Durante o primeiro ano de existência do serviço, porém, esse modo de interação não teria sido tecnicamente possível.

É como inventar um forno tostador e, um ano depois, olhar em volta e descobrir que todos os seus clientes, por si sós, descobriram uma maneira de transformá-lo num micro-ondas.

 

Resumo final

Se olharmos para os últimos cinco séculos a partir da perspectiva distanciada, um fato salta aos olhos de imediato: a competição baseada no mercado não tem nenhum monopólio da inovação.

A competição e o lucro de fato nos motivam a transformar boas ideias em produtos acabados, mas, o mais das vezes, as ideias em si vêm de outro lugar. Na linguagem de Darwin, as conexões abertas da ribanceira emaranhada foram tão generativas quanto a guerra da natureza.

Stephen Jay Gould defende essa ideia com vigor na alegoria de sua coleção de sandálias: “A cunha da competição tem sido, desde Darwin, o argumento canônico para o progresso em tempos normais”, escreve ele.

“Mas quero afirmar que a roda da mudança funcional súbita e imprevisível (o princípio da transformação de pneus em sandálias) é a principal fonte do que chamamos de progresso em todas as escalas.”

O empreendedor de Nairóbi vendendo sandálias na feira pode de fato competir com outros sapateiros, mas o que torna seu comércio possível é o ferro-velho cheio de pneus à espera de ser livremente convertidos em calçados, e o fato de que a boa deia de converter pneus em sandálias pode ser transmitida de um sapateiro para outro pela simples observação, sem quaisquer acordos de licenciamento que restrinjam o fluxo.

 

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